Projeto Poesia às 2as.feiras

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QUINTANA, Mário. Poema transitório. IN: Baú de espantos. Rio de Janeiro, Alfaguara, 2014. p.20

Eu que nasci na era da fumaça: -- trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
para comprar
pastéis
pés de moleque
sonhos
-- principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar:
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
sempre... Nisto,
o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como está vida é urgente!
... no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e -- até hoje -- quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.


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