SILVA, Abel. No enterro do Glauber. IN: Só uma palavra me devora: poesia reunida e inéditos. 3a.ed. Rio de Janeiro, Record, 2001. p.53
Fazia um sol de agosto bonito
até queimou de saúde
a cara de seus amigos
Vieram todas as mulheres
oficiais, ou não
Veio quem te amava
(e quem não te amava
pra levar o caixão)
A voz da Godói nos soprou
as leves asas tão leves
das Bachianas do Villa
e todo mundo chorou
O discurso de dona Lúcia
foi o mais bonito. Toda a ternura de mãe
toda a força do granito
Quando voltei para casa
-- madrugada lilás
com lua árabe --
você já era uma estrela
marota piscando de lá
As âncoras dos mortos doem
no coração dos vivos
para sempre
Amamos o futuro
muito precocemente
ninguém escreveu o roteiro
e ninguém dirigirá
o filme da vida da gente.
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