GULLAR, Ferreira. Perda. IN: Toda poesia (1950-1999). 10ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2001. p.358
A Mário Pedrosa
Foi no dia seguinte. Na janela pensei:
Mário não existe mais.
Com seu sorriso o olhar afetuoso a utopia
entranhada na carne
enterraram-no
e com sua brancas mãos de jovem de 82 anos.
Penso - e vejo
acima dos edifícios mais ou menos à altura do Leme
uma gaivota que voa na manhã radiante
e lembro de um verso de Burnett: "no acrobático
milagre do vôo".
E Mário?
A gaivota voa
fora da morte:
e dizer que voa é pouco:
ela faz o vôo
com asa e brisa
o realiza
num mundo onde ele já não está
para sempre.
E penso: quantas manhãs virão ainda na história da Terra?
É perda demais para um simples homem.
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