GULLAR, Ferreira. Traduzir-se. IN: Toda poesia (1950-1999). 10ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2001. p.335
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
-- que é uma questão
de vida e morte --
será arte?
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