Projeto Poesia às 2as.feiras

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Artistia: Maria do Céu Formiga

GULLAR, Ferreira. Os vivos. IN: Toda poesia (1950-1999). 10ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2001. p.455

Os vivos são vorazes
são glutões ferozes:
até dos mortos comem
carnes ossos vozes

Se devoram os mortos
devoram os outros vivos:
pelos olhos sexo
elogios, sorrisos

Os vivos são dotados
de famintas bocas:
devoram o que vêem,
o que cheiram e tocam

Os vivos são fornalhas
em sempre operação:
em sua mente e ventre
tudo vira carvão

O mar a pedra a manhã
são ali combustível:
o vivo, voraz, muda
o visível em visível

O mar a pedra a manhã
-- que ele queima em seus risos --
viram pele e cabelos
do corpo, que é ele vivo

e onde habita alguém
-- seja espírito ou não --
alimentado também
por essa combustão

que tudo vaporiza.
Mas que agora na pele
desta efêmera mão
é afago de brisa.



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