GULLAR, Ferreira. Dois poemas chilenos. IN: Toda poesia (1950-1999). 10ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2001. p.226
I
Quando cheguei a Santiago
o outono fugia das alamedas
feito um ladrão
Latifúndios com nome de gente, famílias
com nome de empresas
também fugiam
com dólares e dolores
no coração
Quando cheguei a Santiago em maio
em plena revolução
II
Allende, em tua cidade
ouço cantar esta manhã os passarinhos
da primavera que chega.
Mas tu, amigo, já não os podes escutar
Em minha porta, os fascistas
pintaram uma cruz de advertência.
E tu, amigo, já não a podes apagar
No horizonte gorjeiam
esta manhã as metralhadoras
ta tirania que chega
para nos matar
E tu, amigo,
já nem as podes escutar.
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