Projeto Poesia às 2as.feiras


GULLAR, Ferreira. Não há vagas. IN: Toda poesia (1950-1999). 10ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2001. p.162

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

-- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

        O poema, senhores,
        não fede
        nem cheira

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