GULLAR, Ferreira. Ano Novo. IN: Toda poesia (1950-1999). 10ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2001. p.375
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
de um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa...
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)
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