Desde
a apaixonada e ousada Julieta de Romeu à ambiciosa Lady MacBeth a
obra de Shakespeare – que soma 37 peças, 154 sonetos e diversos
poemas escritos entre os séculos XVI e XVII – está repleta de
mulheres excepcionais. Confira.
A
apaixonada e ousada Julieta de Romeu, a submissa Desdêmoma de Otelo,
a frágil heroína Ofélia de Hamlet e a ambiciosa Lady MacBeth são
apenas algumas das personagens criadas pelo inglês William
Shakespeare. Sua obra – que soma 37 peças, 154
sonetos e diversos
poemas escritos entre os séculos XVI e XVII – está repleta de
mulheres.
Julieta, Romeu e Julieta |
Camaleoas
Verdadeiras
“camaleoas”, elas são donas das mais diversas personalidades,
como explica a professora da Uniandrade Anna Stegh Camati,
pós-doutora em Estudos Shakespearianos na Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Anna explica que, apesar de haver certa
mobilidade social naquela época, a sociedade tinha uma estrutura
patriarcal estratificada. A mulher era submissa e sua identidade era
restrita ao sexo.
Como
o dramaturgo inglês deu voz às personagens femininas, muitos
críticos o consideram feminista. Anna, entretanto, prefere não
rotulá-lo, alegando que o autor retratou homens e mulher com igual
maestria e perspicácia. “Ele evidenciava a capacidade da mulher de
transcender os limites de sua condição dentro do sistema
patriarcal. Guardadas as devidas proporções, é possível realizar
leituras contemporâneas das personagens femininas, visto que
Shakespeare deu vez e voz às mulheres”, afirma.
Miranda, A Tempestade |
Dentre
as mulheres de Shakespeare, homens
“Viola,
Rosalinda, Jéssica, Pórcia e outras, eram representadas por atores
travestidos de mulher, que depois, por necessidade das tramas, se
disfarçam de rapazes”, conta Anna. Aliás, é justamente nas
comédias do autor que as mulheres se destacam, segundo a professora.
Além de Viola, ela cita Pórcia (O Mercador de Veneza), Beatriz
(Muito Barulho Por Nada), Katherina (A Megera Domada) e Rosalinda
(Como Gostais).
Para
Anna, as personagens de Shakespeare, são complexas e multifacetadas.
A técnica do disfarce era usada como tática para confundir as
identidades e subverter a visão tradicional da mulher da época,
aludindo à igualdade entre os sexos e questionando a limitação dos
papéis femininos. Em O Mercador de Veneza (1598), por exemplo, três
personagens femininas, Pórcia, Nerissa e Jéssica, se vestem de
rapazes para cumprir funções diversas. Esta situação também é
lembrada no filme Shakespeare Apaixonado (1998), vencedor do Oscar de
Melhor Filme.
O papel social da mulher
“Ele
sugere que a restrição do papel social da mulher é mera criação
cultural e, como tal, comportamento aprendido através do processo de
socialização que condiciona diferentemente os sexos para cumprir
funções específicas e diversas, como se fossem partes de sua
própria natureza”, explica. Essa naturalização que inferioriza o
sexo feminino, segundo Anna, é constantemente criticada,
ridicularizada, desacreditada e subvertida nas comédias de
Shakespeare. “Suas heroínas são fortes, inteligentes e
decididas. Possuem agudeza de espírito, perspicácia, determinação,
audácia, independência, versatilidade e fluência verbal”.
Ofélia, Hamlet |
Tragédias
Apesar
de os protagonistas das tragédias serem predominantemente
masculinos, Anna cita que, em Romeu e Julieta e Antônio e Cleópatra,
as heroínas compartilham o destino trágico dos heróis. “Muitas
personagens femininas das tragédias, tais como Julieta, Lady
MacBeth, Desdêmona e Cleópatra, são personagens marcantes e
fortes. A ousadia de Julieta é reconhecida pelos críticos: ela
questiona a autoridade paterna e se recusa a seguir os códigos da
estrutura patriarcal, priorizando sua identidade pessoal em
detrimento do social”, lembra.
Afinal, Shakespeare existiu?
Uma
grande polêmica ronda o dramaturgo e poeta desde o século XVIII,
quando a autoria de sua obra começou a ser contestada. Um dos
motivos é que há poucos registros em vida do inglês, que teria
nascido em 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon e morrido em
1616 justamente no mesmo dia e mês.
Até
a década passada, apenas três retratos do inglês eram conhecidos
do público, como o sóbrio Retrato de Chandos, do século XVII,
atribuído a John Taylor e cuja autenticidade é contestada até
hoje. Em 2009, foi descoberto um novo retrato do bardo inglês, que
pode ser o único feito em vida. Na época, o diretor Stanley Wells,
do Instituto Shakespeare, se disse convencido que os demais retratos
dele eram meras cópias. A imagem, que por séculos foi conservada na
coleção da família Cobbe, mostra o autor mais jovem.
Quanto
à autoria de sua obra, vários elementos suscitaram dúvidas em
personalidades como Sigmund Freud, Henry James e Mark Twain. Uma
delas é a qualidade superior dos textos, que só poderiam ter sido
escritos por intelectuais. Essa teoria da conspiração foi explorada
no filme Anonymous (2011) e já foi tema de vários livros, como o
recém-lançado Quem escreveu Shakespeare (Editora Nossa Cultura).
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