Projeto Poesia às 2as.feiras


BATISTA, Márcia; HADDAD, Mariângela (ilust.) Uma ponte, um rio, o Pedro e o Zezinho. 2a.ed. São Paulo, Scipione, 1991. 24p. (Do-re-mi-fá)


Havio um rio,
havia uma ponte.
Por cima do rio
passava a ponte.
Por baixo da ponte
passava o rio.
Irmãos no caminho,
companheiros e amigos
se falavam de longe
sem nunca se tocarem...



Por cima da ponte
passava todo dia
o Zezinho, filho do seu Bento,
levando o leite
prá Sinhá Maria.
Por baixo da ponte,
por cima do rio,
passava todo dia
o Pedro, filho da Dona Vitória,
levando pra casa
o peixe que pescara...



-- Ói, Zezinho! Já vai ocê
levando o leite, hein?! --
dizia o Pedro no seu barquinho.
-- Ói, Pedro! Já vai ocê
levando o peixe, hein?! --
dizia o Zezinho do alto da ponte.

Irmãos no caminho,
companheiros e amigos
se falavam de longe
sem nunca se tocarem.
E a ponte e o rio,
e o Pedro e o Zezinho.
A ponte de bambu e corda,
o rio cor da terra que corta.
A ponte balança e dança,
o rio corre manso e canta.

Mas um dia um vento forte
balança a ponte descontrolada.
Chega o Zezinho e olha e olha
e põe o pé e o outro pé e estremece.
-- É coisa ruim, eu hoje tô com medo --
diz o Zezinho estremecido.
Embaixo da ponte descontrolada,
o rio corre ligeiro e encrespado.
Vem o Pedro no barquinho
e põe força e força no remo.
-- É coisa ruim, eu hoje tô com medo --
diz o Pedro já cansado.
E vai um e vai o outro
e hoje nem se falam.
E vão chegando devagarinho
cada um no meio do seu caminho.

E o Zezinho firma o pé
e o Pedro aperta o remo.
Mas o vento descabelado
balança, balança a ponte.
E o Zezinho apavorado
vê o leite que levava
voar e manchar de branco
a água barrenta embaixo da ponte.
O Pedro bem que faz força,
mas a água é mais ligeira
e pra longe seu remo leva.

Desorientado, com um remo só,
ele escuta o barulho do Zé
que balança com a ponte
e cai
na água escura do rio.
O Zezinho sobe e desce
na água do rio barrento.
E o Pedro, desgovernado,
só desce e desce.
O Pedro aflito grita:
-- Zé, segura o remo pr'eu te puxá!
E o Zezinho sobe e desce
e tenta se aproximar,
mas o barco desce e desce.

O Pedro deita no barco
e estica o corpo e o remo
e o Zé, no sobe e desce,
estica o braço e agarra o remo.
Desce agora o barco
na água que corre ligeira
levando o Pedro, e o Zé no remo.

Mas lá na frente tem pedra
e o Pedro sabe disso.
Daí ele grita pro Zé
dar um jeito de subir.

Agora os dois, no barco juntos,
o Zezinho com o braço
e o Pedro com o remo,
aproveitam um momento,
em que o vento respira e pára,
e conseguem no barranco encostar.
Desce rápido o Pedro
com a corda na mão
e amarra o barco num galho.
Logo atrás vem o Zezinho
como os olhos arregalados
e tremendo de frio.

A água barrenta corre ligeira.
O barco vai, mas pára,
e o Pedro mais o Zezinho
vão se olhando devagarinho.
O Zezinho todo molhado
e o Pedro descabelado
se olham, se tocam, se abraçam.
-- Êta, que susto danado!
e que danado de medo eu tive!
dizem juntinhos os dois.

E os irmãos no caminho,
companheiros e amigos
se falam de perto,
se riem, se tocam.

E havia um rio,
e havia uma ponte.
Por cima do rio
passava a ponte.
Por baixo da ponte
passava o rio.


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