Projeto Poesia às 2as.feiras


BANDEIRA, Pedro (Adapt.); IWASHITA, Cecília (ilust.) A roupa nova do rei. São Paulo, Moderna, 2006. 31p. (Clássicos infantis)

Lá num reino bem distante,
muito, muito tempo atrás,
tinha um rei muito orgulhoso
e vaidoso até demais.

-- Meu casaco está horrível!
Já usei mais de uma vez.
Quero um que seja novo.
Ou melhor, quero mais três!

O ministro, obediente,
ia logo dizer sim,
e mandava vir casacos
feitos de ouro e cetim.

Foi então que apareceram
dois espertos trapaceiros:
-- Somos grandes alfaiates,
dois artistas verdadeiros.

-- Conhecemos o segredo
do tecido da Verdade!
É um pano especial,
desmascara a maldade!

-- Roupa feita com esse pano
só não vê o mentiroso,
o injusto, o incapaz,
tolo, burro e preguiçoso.

-- Mas quem for inteligente,
justo, honesto e muito humano,
com certeza notará
a beleza desse pano!

Quando o rei soube do caso,
quis depressa, sem demora,
os artistas fabulosos
contratar na mesma hora.

No palácio do vaidoso,
os dois foram se instalar.
E pediram ouro e joias,
para o pano fabricar.

A fingir trabalho duro,
todo o tempo eles passavam.
Num caixote escondido,
todo o ouro eles guardavam.

-- Como vai a nova roupa? --
quis o rei ficar sabendo.
-- Vá até lá, caro barão,
ver o que estão fazendo.

O barão, admirado, 
não viu nada no tear.
Mas pra não passar por bobo,
resolveu assim falar:

-- Que tecido fabuloso!
Mas que pano magistral!
Acho que o rei vai usá-lo
no desfile nacional!

Quando a vez foi do ministro,
também nada ele enxergou.
-- Mas que cores mais bonitas! --
foi assim que ele falou.

-- Vou ver se a roupa está pronta --
disse o rei por sua vez
-- que o desfile nacional
vai ser no próximo mês.

Assustado, o rei não viu
o que estavam costurando,
mas também não suspeitou
que o estavam enganando.

Bem surpreso, o rei pensou:
"Que destino mafazejo!
Vão pensar que eu sou cretino,
se eu disser que nada vejo!"

-- Ora, mas que maravilha!
Isso é que é roupa de rei.
São artistas verdadeiros,
não foi o que eu falei?

Na manhã do tal desfile,
os dois os foram vestir.
E o rei, só de cuecas,
bem feliz, pôs-se a sorrir.

-- Vejam só que maravilha!
Como é lindo este tecido!
Vou agora desfilar
para o meu povo querido!

E o desfile começou,
como o rei pelado à frente.
De cuecas, como um tolo,
satisfeito e contente.

Todos viam o rei nu,
mas ninguém falava nada.
Pois a tal roupa do rei
todo mundo elogiava.

De repente, um menininho
ficou muito espantado
e gritou com toda a força:
-- Olha, o rei está pelado!

Aquela voz de criança
a verdade revelou.
E aquela gente enganada
em risadas desabou!

Todo o povo pulava,
ria, fazia chacota,
vendo a cara apalermada
daquele rei idiota!

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