Projeto Poesia às segundas-feiras


Na última página de uma antologia nova

Tantos bons poetas!
Tantos bons poemas!
São realmente bons e bons,
Com tanta concorrência não fica ninguém,
Ou ficam ao acaso, numa lotaria da posteridade,
Obtendo lugares por capricho do Empresário...
Tantos bons poetas!
Para que escrevo eu versos?
Quando os escrevo parecem-me
O que a minha emoção, como que os escrevi, me parece --
A única coisa grande no mundo...
Enche o universo de frio o pavor de mim.
Depois, escritos, visíveis, legíveis...
Ora... E nesta antologia de poetas menores?
Tantos bons poetas!
O que é o gênio, afinal, ou como é que se distingue
O gênio, e os bons poemas dos bons poetas?
Sei lá se realmente se distingue...
O melhor é dormir...
Fecho a antologia mais cansado do que do mundo --
Sou vulgar?
Há tantos bons poetas!
Santo Deus! ...

(01 de maio de 1928)

PESSOA, Fernando; LOPES, Teresa Rita (Edição) Poesia completa de Álvaro de Campos. São Paulo, Companhia de Bolso, 2007. p.200.

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