De ti, delícias do ano que jamais perdura!
Que dias negros e que gelos não senti;
Que nudez de dezembro velho por moldura!
Era contudo pleno estio esta ocasião,
E, à espera de opulenta prole, a hora do outono,
Trazendo o fardo voluptuoso do verão,
Como a esposa, já morto o seu senhor e dono:
Mas essa larga geração me parecia
Fruto sem pai, futuros órfãos tão-somente:
Porque o verão te segue, e mais sua alegria,
E os pássaros não cantam quando estás ausente.
Ou, caso cantem, de modo se entristecem,
Que as folhas por temor do inverno empalidecem.
SHAKESPEARE, William; RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Tradução) Sonetos. 4.ed. Rio de Janeiro, Ediouro, p. 97 (Clássicos de bolso).
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